quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

PREOCUPAÇÃO: Vale a Pena?

Até hoje, em toda a minha vida, não presenciei uma só preocupação que evitasse um fato de acontecer. Pior: na esmagadora maioria das vezes em que alguém se preocupa com alguma coisa, esta coisa não acontece. E se acontece, não há nada que se possa fazer. Então por que preocupar-se? Quer saber por quê? Porque faz parte da nossa cultura, porque, na verdade, a maioria das pessoas, morre de vergonha de dizer: “não tenho a menor preocupação” por que, é como se dissesse “ não amo nada nem ninguém”. Na verdade, esta pessoa é uma pessoa amorosa, sobretudo porque ama muito a si mesma e se respeita a ponto de não se infringir sofrimentos desnecessários e inúteis. Tenho uma amiga, cujo filho de 20 anos, desaparece por uns três dias. Ele adora montanhas, e quando lhe dá na cabeça, resolve passar uns dias ao pé ou no cume delas. Às vezes, a minha amiga só se dá conta do desaparecimento quando o filho está de volta. Uma vez, lhe perguntei:
- O Beto desaparece literalmente e você não se preocupa nem um pouco? – Mesmo que eu tentasse disfarçar estava aí uma leve censura, como se o fato dela continuar vivendo a sua vida normalmente, fosse sinal de desamor.
- O Beto tem 20 anos, sabe o que quer e como fazer. Não seria possível acompanha-lo nas suas montanhas, mesmo porque não levo jeito. Tudo o que eu poderia fazer por ele, em termos de educação e cuidados eu já fiz. Agora, o caminho é dele e eu não posso deixar o meu caminho, para andar no dele.
- Mas ... você não se preocupa? – Insisti.
- Com o quê? Ele está fazendo o que gosta e naturalmente está muito feliz.
- Mas ele pode ser picado por uma cobra...passar mal, sei lá. Tanta coisa pode acontecer.
- E eu ficar daqui, me preocupando, vai salvá-lo de uma jararaca? O fato singelo de eu me preocupar vai livra-lo de algum mal?
- Não, mas...
Na verdade eu comecei a achar a minha amiga muito fria. Como é que ela não se preocupava com o seu único filho? Ela me respondeu tão serenamente, antes que eu perguntasse:
- Amo o meu filho. E por isso mesmo quero que ele viva a sua vida da melhor maneira possível: mas a que ele achar que é melhor. O fato de não me preocupar com fatos sobre os quais não teria controle é uma decisão minha. Não pense que foi fácil. Todas as vezes em que o Beto saía eu começava a me preocupar. Todas as vezes ele chegava feliz e saudável. E, mesmo que nem tivesse voltado, toda a minha preocupação não teria valido nada. Aí, comecei a treinar: se me vinha um pensamento nega
tivo eu imaginava como ele estava feliz. Se alguma coisa acontecesse ele tem o celular e, certamente, eu ficaria sabendo a tempo de socorrê-lo. Se, às vezes o Beto liga no meio da noite, eu sempre penso:- “Deve ser o Beto. Vai me falar que viu um lobo guará. Ele adora lobos.” Claro que foi preciso treino para chegar a isso. Mas hoje é tudo natural. Eu sou naturalmente despreocupada. - E riu, um sorriso sereno.
Quando alguma coisa começar a lhe preocupar, faça um diagnóstico mais ou menos assim:
-Vejamos! Isto que estou pensando tem alguma chance de acontecer? Mesmo assim, o fato de eu me preocupar vai fazer com que não aconteça? A resposta é sempre não. Então porque ocupar-se com tanta inutilidade? Todas as vezes em que a palavra preocupação sair da sua boca, pare e raciocine. Preocupar-se não é amar. É uma tentativa inútil de controlar o que não é controlável.